TRES PERSONAGENS, MARCHAM SEM SAIR DO LUGAR, CONSERVANDO UMA CERTA
FORMAÇÃO. UM SE TRANSFORMA EM QUATRO, DOIS EM CINCO, TRES EM
SETE E ASSIM POR DIANTE. UM RITMO DE PERCUSSAÕ ACOMPANHA SEUS
PASSOS.
1 |
- |
Estamos chegando |
2 |
- |
Afortunadamente estamos chegando. |
3 |
- |
Estamos avançando. Isto é tudo. |
2 |
- |
Não. Vamos chegando. |
1 |
- |
Uns passos mais e faltarão uns passos
menos... |
3 |
- |
E quando faltarem uns passos menos haveremos dado uns
passos mais. Há! (PAUSA) |
2 |
- |
O que importa é que estamos chegando. |
1 |
- |
Gosto de avançar e pensar que lá
esta...Então o vejo...È uma coisa bárbara. |
3 |
- |
Aonde coisa bárbara! Chega se puder, vê o
que tem que ver, faz o que tem que fazer e chega. |
1 |
- |
È o que eu digo. O que acontece é que eu
gosto. |
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|
(SOA UM TIRO). |
|
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(ABRE OS BRAÇOS. UM CAI NO CHÃO E ROLA). |
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(DE LADO. ZONA SOMBRA. LOGO SE LEVANTA E SE PÕE). |
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(ATRÁS DOS DEMAIS. È UM NOVO PERSONAGEM). |
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3 |
- |
Não vê? Estão atirando. |
2 |
- |
E o que tem isso? |
3 |
- |
Como o que tem? Como o que tem? Gritam para chamar a
atenção. Eles atiram! |
2 |
- |
(DA DE OMBROS) Sempre atiram. |
3 |
- |
Eu sei que sempre atiram! Mas, não tem que
provoca-los. |
2 |
- |
(VOLTA A DAR DE OMBROS) Mesmo que não os
provoquem, eles atiram. (TIRO. DOIS CAI E APARECE DETRAS). |
3 |
- |
Isso também o sei. ( TIRO) (PAUSA) |
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|
1 |
- |
Sempre atiram. E sempre alguém cai. |
5 |
- |
Lógico. Alguém tem que cair. |
3 |
- |
Por que lógico? E porque alguém tem que
cair? |
5 |
- |
Porque atiram. Então caem. É assim. Uns
atiram. Outros caem. |
1 |
- |
o que fazem os que estão chegando? |
5 |
- |
Dão a volta e começam a atirar.
(PAUSA) |
1 |
- |
Assim dá para entender. |
3 |
- |
Porque os buscam. Porque os provocam. Porque
não sabem marchar. (TIRO. CAI). |
1 |
- |
Por qualquer coisa. |
3 |
- |
Uns atiram. Outros caem. |
4 |
- |
Não os deixam chegar. |
5 |
- |
Não. Nunca os deixam. |
6 |
- |
Nunca os deixam? |
4 |
- |
Nunca! (TIRO) |
|
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5 |
- |
Não vê? Atiram. |
6 |
- |
Sim. Vejo. Está mal! |
5 |
- |
Caem. |
6 |
- |
Alguém teria que fazer al aqui. |
5 |
- |
Um político. Atiram. |
6 |
- |
Um líder. |
5 |
- |
Tombam. |
6 |
- |
Um homem forte. |
5 |
- |
Atiram. |
6 |
- |
Um dirigente. |
5 |
- |
Caem. |
7 |
- |
Deus! |
5 |
- |
Atiram. Caem. Atira. (TIRO CAI) |
|
|
|
6 |
- |
Deus! Não esta nada fácil
ultimamente. |
7 |
- |
É? |
6 |
- |
É isso. |
7 |
- |
É o que? |
6 |
- |
Que atiram não compreende? Então matam,
que pretendem? |
7 |
- |
Ninguém pretende nada, que eu saiba. |
6 |
- |
Ninguém pretende nada, mas os matam. (ENFATICO)
"Não eram obrigados" Mas, os matam. E ninguém os chamou.
Mas os matam. |
8 |
- |
Por que os matam? |
6 |
- |
Porque! (TIRO. CAI). |
|
|
|
7 |
- |
Isso é muito feio. Todos deveriam ter sua
oportunidade. |
8 |
- |
É claro. Sua ocasião. |
7 |
- |
Sua chance. (TRANSIÇÃO) Estamos num jogo
livre, não? Bom, Então FAIR PLAY. |
8 |
- |
FAIR PLAY? |
7 |
- |
FAIR PLAY. (TIRO CAI) |
|
|
|
8 |
- |
Não tem ocasião para
ninguém. |
9 |
- |
Não diga isso. É injusto... |
8 |
- |
Nem chance nem oportunidades.... |
9 |
- |
Não se deve dizer. |
10 |
- |
Sim. Deve-se. |
9 |
- |
Não se deve pensar. |
10 |
- |
Sim, pensa-se. |
9 |
- |
Não se deve, nem pode, nem corresponde opinar
dessa maneira. (TRES TIROS) |
|
|
|
8 |
- |
A gente vai marchando e pensa, vai pensando e diz, vai
dizendo e... CAI. (TIRO. ROLA PARA UM LADO). |
10 |
- |
E não se pensa mais. |
9 |
- |
Melhor. Assim não se fala. E não dizem
besteiras nem coisas injustas e inconvenientes. |
10 |
- |
Eu penso o que quero! E digo o que quero. E se
não digo nada é porque não quero. E se quisesse
dizer eu diria. O que eu ia dizer? |
|
|
(TIRO CAI) |
|
|
|
11 |
- |
Eu não me explico. Francamente eu não me
explico. Alguém ia para algum lugar e caiu ao tentar. Não
pode ser. Alguma coisa esta errada no mecanismo dessa relojoaria. Algo
esta decomposto. Me dá tristeza. Posso vomitar? |
12 |
- |
Toma tua linha. |
9 |
- |
Que disse? |
12 |
- |
Que tome tua linha. Não é uma resposta
adequada, mas que vai se fazer. Isso disse e isso respondem. |
11 |
- |
E a você? Quem o chamou? |
9 |
- |
A mim ninguém. Eu vim simplesmente. Mas vejo e
opino. Ouço e opino. Sou como os demais. |
11 |
- |
Eu também. Como os demais. Mas não
agüento a tristeza e a vontade de vomitar. (TIRO CAI) |
12 |
- |
Eu não agüento os defensores de
menores. |
9 |
- |
Você não os agüenta, mas
estão. Devem estar. E seguirão estando apesar de
tudo. |
12 |
- |
Quem? Os defensores? |
9 |
- |
Os menores. E logo, os defensores, por
conseqüência lógica. |
12 |
- |
Não faz falta defender ninguém aqui.
Aqui se marcha. E tem que marchar sem perder tempo em outros assuntos.
Tem que marchar e acabou. (TIRO, CAI). |
9 |
- |
Não vê? Apressado. (TIRO. CAI
TAMBEM). |
|
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13 |
- |
Eu quero pedir-lhes... que não atirem mais.
Não queremos prejudicar a ninguém. Estamos aqui somente
porque temos que estar. Estavam nossos avos... e nossos pais... Estamos
nós e estarão nossos filhos.. E os filhos de nossos
filhos... E todos os filhos de todos os filhos. Não podem atirar
eternamente. Para andar assim, melhor seria se não
tivéssemos começado a andar. Ficamos quietos desde o
principio, e aí esta, agora é um horror. Um horror
imenso, Um horror incomensurável. |
|
|
(TIRO, CAI). |
|
|
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14 |
- |
Não tem que falar. |
15 |
- |
Certo. |
14 |
- |
Não tem que falar nem para dizer certo. |
15 |
- |
Não tem que falar nem para dizer que não
tem falar. |
14 |
- |
Certo. |
15 |
- |
Tem que avançar, seguir, caminhar. |
14 |
- |
Certo. (DOIS TIROS). |
15 |
- |
Tem que calar. (TIRO) |
|
|
|
16 |
- |
Eu tinha um filho que havia começado a marchar
muito cedo. Era valente e decidido. |
15 |
- |
Capaz e empreendedor. |
16 |
- |
Como? |
15 |
- |
Capaz e empreendedor. Assim se diz. |
16 |
- |
Era um rapaz jeitoso. Um bom rapaz. Um dia ia andando
e PUM. |
15 |
- |
PUM? |
16 |
- |
PUM. (TIRO, CAI). |
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|
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15 |
- |
Era um rapaz que tinha o principal. |
17 |
- |
O principal é força. |
15 |
- |
Energia. |
17 |
- |
Vontade. |
15 |
- |
Garra. |
17 |
- |
(DESCONTROLADO) Alegria! |
15 |
- |
Perseverança. (TIRO) |
|
|
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18 |
- |
O principal é estar acima das coisas vulgares
da vida. Convido a todos a meditar. |
19 |
- |
Para de encher o saco, pó! |
18 |
- |
Convido a todos a sentar-se. |
19 |
- |
Este ta louco. |
18 |
- |
Eu os convido à .... |
20 |
- |
Não convide mais, meu velho. Não estamos
para convites. |
18 |
- |
Tem que se colocar acima das coisas vulgares. E por
baixo das ambições. (OS OUTROS REPROVAM, CONDENAM),
(EMPURRAM) |
|
|
Tem que colocar-se... Mas, não escutam? Eu estou lhes
falando de como vocês tem que agir. Como tem que se comportar.
Para que isso não termine assim. Eternamente assim. (SE DETEM).
(TIRO. CAI). |
|
|
|
|
|
(APÓS UMA PAUSA) |
19 |
- |
Tem gente que enche o saco. |
20 |
- |
É... |
19 |
- |
Tem gente que é chata. Parece que não
sabem. Não conhecem o jogo e pedem cartas quando já
estão servidas. (TIRO) Como eu...(SE RETORCE) Estou
servido. |
20 |
- |
Bem servido. (TIRO. ROLA ATE O FUNDO DO PALCO). |
22 |
- |
Tem gente que não entende. |
21 |
- |
Tem gente que sonha. |
20 |
- |
Tem gente que acredita. |
21 |
- |
(ABRE OS BRAÇOS) Tem de tudo. (TIRO. CAI). |
|
|
|
22 |
- |
Onde estão? Os que caíram, onde
estão? |
20 |
- |
Por ali. Não sabes? |
22 |
- |
quero ver seus rostos. |
20 |
- |
Estão podres. |
22 |
- |
Suas mãos... |
20 |
- |
Podres. |
22 |
- |
Seus pés... |
20 |
- |
Podres. Todos podres. É o pior que se pode
ver. |
23 |
- |
Ninguém vem aqui para ver. |
20 |
- |
Se vem a caminhar. |
23 |
- |
A seguir adiante. Com tudo, apesar de tudo e contra
tudo. (TIRO). |
22 |
- |
Suas mãos e seus pés... |
20 |
- |
Tudo podre. |
22 |
- |
E seus rostos. (TIRO. ROLA ATE O FUNDO DO PALCO). |
20 |
- |
Podre. Bem podre. |
23 |
- |
Definitivamente podre. (DOIS TIROS. CAI). |
|
|
|
24 |
- |
Bom, esperem um pouco. |
23 |
- |
Dêem um pouco de folga. |
25 |
- |
E respiro. |
24 |
- |
Compreendam o que vem. |
25 |
- |
Deixem um pouco mais. Um passo mais. Um metro mais.
(TIRO). Lixo! (OUTRO TIRO). |
24 |
- |
Não deixam nada! (TIRO) |
|
|
|
27 |
- |
(ENTRA SALTANDO) O que estão fazendo, he, tome
cuidado, he, (OUTRO PULO) Não empurrem he, A coisa ta brava,
está muito brava. (PULO) Parem com isso ou vou dar porradas.
Bando de desgraçados. Porque não vão empurrar a
sua irmã? |
|
|
(TIRO. CAI BRIGANDO COM OS OUTROS). |
|
|
|
28 |
- |
Muito bem feito. Para a porcaria que vem andando, o
melhor é varrer a todos. |
26 |
- |
Você acha? |
28 |
- |
Onde vai chegar essa gente? |
26 |
- |
Não sei. |
28 |
- |
Tem que varre-los de uma vez. Liquida-los.
Arrebentar-lhes. (TIRO) |
29 |
- |
Deixem fazer, vigaristas! Deixem fazer, filhos da
puta, podres, Ladrões...(TIRO. CAI). |
26 |
- |
Vocês atiram. Não importa. A aurora de
aproxima do Oriente. |
|
|
(TIRO) |
|
|
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30 |
- |
Desde cima lhes chega a
condenação...Desde cima...lhes chega...a
condenação...(TIRO. CAI). |
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|
|
33 |
- |
Ta legal eu não insisto. Cheguei ate aqui.
Não mais do que isso. |
32 |
- |
Loucos! Bando de loucos. Deixem a cada homem cumprir o
seu destino...Loucos... |
33 |
- |
Ta legal. Eu não insisto. Por mim façam
o que quiserem. |
32 |
- |
Loucos. |
33 |
- |
Façam o que tem vontade. (TIRO. CAI). |
32 |
- |
Um bando de loucos. (TIRO. CAI). |
|
|
|
34 |
- |
Não há uma placa aqui? Nem um poste
indicador? Não há nada. Então esta marcha
não leva a nada. (TIRO. CAI) Não somos... Nada.
(TIRO) |
|
|
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35 |
- |
Como podem atirar se existem os pássaros? Como
podem atirar se existem as nuvens? Como podem atirar quando a vida nos
ilumina a cada passo com suas belas sensações? (SE DETEM)
Essa, senhores é a minha opinião ao respeito. (TIRO.
CAI). |
|
|
|
36 |
- |
Chega!!!! |
37 |
- |
Ele disse chega. Eu não digo nada. Para mim
são Palavras...Bom no fim eu penso, cada um é
responsável pelo que diz não? Sem meter o vizinho no
meio. Depois tem que agüentar as conseqüências. As
conseqüências...as conseqüências (TRANS. SE
AJOELHA) Não atirem. Eu não disse nada!!! Não fui
eu. Eu não vou para lá. Eu vou para outro lado. |
|
|
|
|
|
(TIRO. SE CONTORSE. BAIXA A VOZ) Eu não disse nada!
(TRÊS). |
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|
(TIROS) (QUEM VEM DETRAS O EMPURRA COM O PÊ. ROLA |
|
|
(PARA O FUNDO DO PALCO) |
36 |
- |
(MECANICAMENTE) Chega!!!! (CAI MECANICAMENTE) |
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(38; 39; 40; SEGUEM MARCHANDO EM SILENCIO). |
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38 |
- |
Bom. |
39 |
- |
Até que enfim. |
38 |
- |
Se acalmaram. |
39 |
- |
Ao que parece, se acalmaram. |
40 |
- |
Ninguém sabe...às vezes se
comportam. |
39 |
- |
As dicas. |
38 |
- |
Que dicas? |
40 |
- |
O exemplo. |
38 |
- |
Que exemplo? |
39 |
- |
A força. |
38 |
- |
Que força? |
39 |
- |
E...de todos...No são impulso de
avançar...realizar-se... e atingir as coisas que
bem...são os sais da vida....(TIRO. CAI). |
40 |
- |
O sal e a pimenta. (TIRO. CAI). |
38 |
- |
E o creme e o doce. (TIRO. CAI). |
41 |
- |
E a manteiga!! Vigaristas. (TIRO. CAI; O RITMO
AUMENTA). |
42 |
- |
Assassinos...podres... (TIRO. CAI). |
43 |
- |
Irmãos da merda.... (TIRO. CAI). |
44 |
- |
Lixo e mais lixo. (TIRO. CAI). |
45 |
- |
Carne do lixo. (TIRO. CAI). |
46 |
- |
Alma do lixo. (TIRO. CAI). |
47 |
- |
Cheiro do lixo. (TIRO. CAI). |
48 |
- |
Que vão fazer? |
49 |
- |
O que vão fazer? |
50 |
- |
O que vão fazer? |
|
|
|
|
|
TODOS: QUANDO TODO MUNDO AVANZAR? |
|
|
|
|
|
(DISPAROS DE TODO TIPO, EXPLOSÕES, ETC.). |